Você é uma pessoa interessante?
Em tempos de tamanha influência das redes sociais, ser interessante se tornou quase uma obrigação para muitas pessoas. E se levarmos isso ao pé da letra, trata-se de algo realmente triste. Vejam bem, essas pessoas hoje têm realmente uma rotina de mídia social, sendo fielmente comprometidas. Tem a foto do dia e a story do dia. Ademais, não podem posar com amigo que “não vende”. Por fim, tem a hora de postar que bomba mais. E, claro, tem como comprar seguidores e likes. Lugares, companhias, roupas, comidas e festas ditam as regras. Tudo por audiência. Ser uma figura pública é sinônimo de auto-estima, fama, influência e ego saciado.
E as mídias sociais são apenas um exemplo, pois nos encontros pessoais, reside também a incontrolável e involuntária aspiração de se mostrarem pessoas interessantes.
No fim, virou diferencial abordar coisas simples. De repente, os interessantes viraram chatos e populares, e surge então a moda de se mostrar e apreciar coisas simples. Ser simples, então, passa a ser cool.
Moro em uma cidade que respira muita ostentação e nunca quis fazer qualquer esforço para ser aceito e requisitado em alguns grupos. Isso me demandaria uma postura fake, ao passo em que me encontro numa vibe totalmente oposta. Bom, ser eu mesmo ou ser eu de verdade, definitivamente não me tornou um cara popular e para mim isso está apenas “ok”.
Aliás, dizem que para conhecer alguém de verdade tem que se morar ou viajar com alguém. Óbvio, ninguém consegue ser ator e atriz por 24 horas, afinal as máscaras caem. Ali as pessoas se conhecem in natura, e logo, a relação acaba ou se fortalece. Acaba se não há mesmo afinidade, e se fortalece caso haja cumplicidade. Essa cumplicidade é o alvará de ser quem cada um é. Ambos se livram do fardo de atuar, se permitem saber os maiores defeitos e qualidades, criam intimidade e apenas se aceitam, reverenciam as verdades um do outro.
Mas com certeza também podemos conhecer alguém “de verdade” pouco a pouco, criando um vínculo e deixando uma relação se construir naturalmente. Porém, a maioria das pessoas não está disposta a isso e já no primeiro contato estabelece filtros, mapas e conclusões precipitadas. Já querem as pessoas prontas, com os pré-requisitos e que espelhe exatamente a figura de alguém, adivinhe: in-te-res-san-te!
Afinal, por que se criam tantas expectativas ao conhecer alguém?
Por que ela tem que ser a pica das galáxias?
Você só se sentirá valorizado ao ser aceito por essas pessoas?
Aí reside a armadilha, pois para tal objetivo, se tornam escravos da síndrome de ser interessante, criando uma bolha de superficialidades e relações mornas.
Acompanho essa cena desde a adolescência. Sempre vi alguns amigos ou postulantes a amigos que eram minha referência, não serem na verdade aquilo que pareciam ou que eu imaginava ser com o passar do tempo. Alguns, eram até grandes “losers”, motivo pelo qual eu, desde cedo, deixei de admirar qualquer pessoa que passasse uma impressão de poder e influência, pois cedo ou tarde, eu me daria conta que ela não era aquilo tudo. Geralmente se confirmava. E da mesma forma, houve pessoas que criaram uma expectativa muito maior de mim que não se concretizou após certo tempo.
Precisamos quebrar esta projeção que temos do outro e dos padrões da sociedade. Quando você preencher suas lacunas, deixará de esperar tanto que o outro tenha algo a mais a oferecer, e deixará de se auto-afirmar tanto buscando a equiparação e a inclusão em um grupo desejado. No fundo, como você mesmo já deve ter vivenciado, são apenas ilusões. Mas por que continuamos no mesmo erro?
É hora de abandonar o inconsciente coletivo e voltar para si mesmo, afinal existe alguém bem interessante aí para ser observado e estudado.
Valorize sua própria história como ela foi e reverencie suas reais conquistas.
Não se mostre interessante, apenas se reconheça como tal. Quando você força a barra, pode até ter um resultado imediato, porém pouco duradouro, ao passo que mostrando quem você é de verdade, atrai resultados menos imediatos, porém verdadeiros e longevos.
Ser interessante é ter o orgulho e a coragem de ser, aceitar e expor quem você é em essência.
Reflita sobre seus personagens e se despeça de cada um. E eu te garanto que mudará suas percepções sobre quem é interessante ao seu redor.